terça-feira, 20 de agosto de 2013

Esportes de ‘elite’ na periferia



Adiston Ramos, 12 anos, e Diogo de Oliveira, 11, treinam golfe na Vila Beira Rio
Foto: Carol Tomba

Jovens de São José se destacam em esportes caros, como o golfe e o tênis, em busca do sonho de uma vida melhor

Xandu Alves, São José dos Campos

Enquanto meninos correm atrás de bola e pipa em uma surrado campo de futebol na periferia de São José, Adiston Ramos, 12 anos, treina o mais inusitado dos esportes para o lugar: golfe.

Com tacos de metal e bolinhas sintéticas, ele dribla a falta de recursos da família para se dar bem no desporto nascido na Escócia e considerado de elite. O equipamento completo para um jogador de golfe, incluindo 14 tacos, bolsa e bolinhas, pode custar até R$ 10 mil, valor proibitivo para os pais de Adiston, que têm outros três filhos. Eles moram em um casebre na vila Beira Rio, no extremo da zona oeste da cidade, às margens do rio Paraíba.


Sem porta de entrada e acabamento, a casa do estudante brilha com os 13 troféus que ele ganhou jogando golfe. “Meu sonho é ver ele nos Estados Unidos para estudar e jogar golfe”, diz a mãe, a dona de casa Selma Rocha, 31 anos.

Para ter ideia das dificuldades da família, Selma usa um barco para atravessar o rio Paraíba e ir ver o filho jogar. “É emocionante a gente ver ele ganhando”, diz a irmã Denise Ramos, 15 anos.


Adiston Ramos conquistou 13 troféus jogando golfe
Foto: Carol Tomba

Caddie

O golfe surgiu na vida de Adiston há dois anos, enquanto ele acompanhava o pai, Demétrio Ramos, 36 anos, que trabalha no clube de campo Santa Rita, em São José. Ramos é caddie de vários jogadores de golfe. É ele quem leva a bolsa com os tacos para os golfistas.

Vendo o pai e incentivado por sócios, o menino começou a dar suas tacadas. Gostou tanto que se tornou, na opinião do pai, uma promessa do golfe. “Ele tem muito talento e pode ir longe. Sonho que ele vá se tornar um jogador profissional”, diz Ramos.

O pequeno Adiston, que dribla a própria timidez para falar do esporte, gosta mais de golfe do que futebol. “Eu e meu primo Diogo jogamos todos os dias. Quero ser campeão”, conta.


O estudante Sérgio Amorim, 19 anos, começou a jogar tênis no clube onde trabalha 
Foto: Carol Tomba

Bolinhas

Trabalhando até cinco horas seguidas para pegar bolinhas de tênis no clube Santa Rita, durante partidas entre sócios, o estudante Sérgio Amorim, 19 anos, viu surgir uma oportunidade.

Ele começou a treinar com raquetes emprestadas, jogando sozinho contra o paredão, e foi aos poucos familiarizando-se com o esporte. Hoje, além de ser uma promessa do tênis, sonha em vencer a pobreza da vida na periferia com uma carreira universitária em educação física.

Pelo trabalho no clube, ele ganha R$ 20 por aluno, que lhe dá R$ 600 por mês, em média. É pouco para comprar um equipamento de tênis, que pode custar mais de R$ 1.000.

Mas Amorim não desanima. Usa o talento e a perseverança para seguir jogando tênis: sacando em direção ao futuro, devolvendo os obstáculos e vencendo os adversários. “Talento só não basta. Tem que correr atrás”, afirma.



Matéria publicada no jornal O Vale 18/08/2013
http://www.ovale.com.br/nossa-regi-o/esportes-de-elite-na-periferia-1.436367

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