O primeiro a chegar ao lugar, sozinho, há quase três décadas, foi Alziro Ramos, hoje com 74 anos (*). Depois, ele levou Antônia, atualmente com 57 anos, com quem se casou e teve 14 filhos, dos quais criaram 13. Instalaram-se também no lugar filhos do primeiro casamento de Ramos e suas famílias. Todos viviam da pesca no Paraíba.
Ramos conta que, até o início dos anos 1980, apanhavam-se piabanhas de 7 a 8 quilos, havia abundância de traíras graúdas, cascudos, dourados, e era possível arrastar até 70 quilos de curimbatá de uma só vez. "Era até demais", diz o piraquara. "É uma pena que o curimbatá acabou", lamenta.
Hoje, os pescadores da Beira Rio se dividem durante o ano entre a captura de escassos mandis, lambaris e piabas, a confecção de redes de pesca e serviços de pedreiro ou trabalhos avulsos no Clube Santa Rita, na margem oposta do Paraíba, especialmente em dias de competição de golfe.
Erasmo Rodolfo Bertolino da Silva, de 26 anos, pai de um menino de um ano, pesca apenas casualmente, no começo do ano, quando a cheia favorece a ocorrência de peixes. "Nos outros meses, trabalho como servente de pedreiro", conta.
Quando não encontra outra atividade, Antônio Ramos, de 49 anos, que criou seus oito filhos com o produto da pesca, recorre à rede: "Mas às vezes não compensa". Pescar, explica ele, é muito cansativo, pois demanda horas no barco, que em certos trechos do acidentado rio tem de ser arrastado pelas margens. "Jogo a rede pelo menos para comer", diz Alziro, pai de Antônio. Mas peixe na mesa a família só vê uma ou duas vezes por semana.
Matéria publicada na Revista Problemas Brasileiros nº 384 nov/dez 2007
http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=292&Artigo_ID=4585&IDCategoria=5222&reftype=1
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